quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Muitos ateus acreditam em Deus (Pe. James Guirguis)

A leitura do Santo Evangelho segundo São João 3: 13-17


Se você já assistiu um jogo de futebol pela televisão, notará que sempre há alguns fãs que estão segurando grandes cartazes que se lê "João 3: 16". Quando eu era criança, eu me perguntava o que isso significava, eu não era acostumado a memorizar os versículos da Bíblia, então eu não tinha ideia. Um dia eu fui e olhei o versículo de João 3: 16 que dizia: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna". E João 3: 17 continua: "Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele".

Uma das piores ideias que já foram divulgadas sobre o Cristianismo é essa implicação de que Deus está cheio de ira e que Ele está ativamente buscando pessoas para punir e lançá-las a um lugar chamado Inferno. O medo da ira de Deus e do castigo no inferno é um dos principais impulsionadores de tantos sentimentos anticristãos que emergiram na história europeia e agora estão começando a se apoderar aqui em nosso próprio país. De certa forma, podemos dizer que as pessoas são repelidas por esse tipo de deus. Então, eles apresentam outras opções que lhes permitem evitar ter que pensar muito sobre esses conceitos. Eles se tornam universalistas ou budistas ou se tornam "espirituais, mas não religiosos" (o que é uma maneira de dizer que você acredita em algo, mas não tem certeza do que é e que, não importa o que seja, você ainda tem permissão para fazer o que quiser sem qualquer orientação ou regras do lado de fora). Infelizmente, às vezes as pessoas se tornarão agnósticas, ou pior: ateístas.







Uma vez tive o prazer de encontrar alguém que foi ateu militante. Ele se tornou um cristão e mais tarde, um cristão ortodoxo. Um dia, quando nos sentamos e tomamos um café juntos, fiz-lhe duas perguntas: "A maioria dos ateus realmente acredita em Deus?" e "Os ateus não estão zangados com a ideia de Deus que lhes foi apresentada?". Fiquei surpreso quando este homem me respondeu dizendo "Sim". Na verdade, mesmo como um ateu declarado, ele sempre acreditou em Deus e ele passou grande parte de seu tempo argumentando contra e se concentrando nesse deus que ele estava convencido de que não existia! Mas ele estava bravo com o Deus em que as pessoas tentaram fazer ele acreditar. Talvez ele estivesse certo, já que a imagem de Deus oferecida pela maior parte do Ocidente é falsa.

A Teologia é algo de suma importância, porém, uma teologia pobre cria frutos podres. Quando usamos uma linguagem desleixada sobre Deus, ou quando nos desviamos muito da verdade que nos foi entregue pelos Santos Padres, acabamos criando uma teologia que não traz cura, conforto e paz, mas sim semeia contendas, rebeliões e incredulidade nas almas de muitos. Em nenhum lugar do mundo cristão a Teologia finalmente traz paz e conforto duradouros fora da Igreja Ortodoxa e a razão é muito simples: a Igreja Ortodoxa ensina clara e absolutamente que Deus é amor. Outros ensinam isso, mas com todos os tipos de "se", "e" e "porém". Coisas ruins acontecem ao nosso Cristianismo quando criamos uma teologia cheia de obstáculos entre Deus e Seu amor pela humanidade.

No Cristianismo Ortodoxo, aprendemos que o amor de Deus não é determinado pelo nosso comportamento. Se esse comportamento é a obediência aos mandamentos ou a crença em Seu Filho, é falso, pois Deus não muda! Deus ama o mundo inteiro e deseja que todos sejam salvos e conheçam a verdade! Nosso foco em levar os outros a um relacionamento amoroso com Deus e com Sua Igreja só pode acontecer quando descartamos nossos conceitos medievais da ira de Deus e da necessidade de sacrifício e justiça. Essa é a teologia de muitos grupos cristãos, mas, em última instância, falha, porque força Deus a mudar Sua atitude e temperamento dependendo do que fazemos. Deus é imutável.

Não foi a ira de Deus que enviou Seu Filho para se tornar um ser humano humilde. Foi a misericórdia de Deus e Seu amor pela humanidade. Deus não enviou Seu Filho para condenar o mundo. Ele enviou Seu único Filho Jesus Cristo para que, se possível, todo mundo possa ser salvo através da Sua encarnação, Sua vida, Sua crucificação, Sua ressurreição, Sua ascensão e o envio do Espírito Santo. Todos esses eventos mudaram o curso de toda a história humana. Todos esses eventos, quando bem compreendidos, nos permitem abordar nosso próximo com muito cuidado e compaixão e não com uma visão desleixada de um Deus bravo.

Somos abençoados porque Deus nos ama sem condições e sem limites. Imagine o que pode acontecer se pudermos apresentar pessoas a esse Deus que realmente nos ama? Glória a Deus para sempre. Amém!


Tradução: Felipe Rotta