sexta-feira, 6 de outubro de 2017

A Etnia não Vem Antes da Fé (Missão Santo Antônio do Deserto)

Então este homem vem à igreja exatamente como o fez no outro dia. Ele saiu de seu carro e perguntou: "Esta é a Igreja Episcopal?" Eu disse que era a nossa capela, mas que nós alugamos isso para nossos ofícios. Sem perceber o letreiro branco, ele disse: "Bem, qual é a sua igreja?" E eu respondi: "Nós somos a Igreja Ortodoxa em Las Cruces". Ele perguntou o que isso significava, com um olhar intrigado no rosto e eu disse: "Somos globais, mas às vezes somos conhecidos como Igreja Ortodoxa Oriental", e então ele disse: "Oh, você quer dizer ortodoxo GREGO ou RUSSO?". Eu podia ouvir as letras maiúsculas em sua voz. Sua reação me fez pensar mais uma vez sobre esse problema.

O que acontece quando algum outro rótulo o identifica de forma diferente da qual você quer que as pessoas saibam?







Nós, cristãos ortodoxos, dizemos muitas vezes: "nós somos a igreja cristã mais antiga, nós estávamos lá desde o início, e muito antes da divisão com o catolicismo", mas na América com $2,00 pode-se comprar uma xícara de café. É verdade, é claro, pois a história e a antiguidade não significam nada nos Estados Unidos, exceto para um pequeno número de pessoas — como aqueles que amam a música clássica. Para ser identificado por um conjunto étnico, você deve atender a um grupo limitado.

Na Missão Santo Antônio do Deserto nós não colocamos nenhuma identificação étnica em nosso letreiro. Quem precisa ainda de mais problemas em uma parte do nosso país onde a Ortodoxia é quase totalmente desconhecida? Nosso problema é mais básico: nem sequer somos reconhecidos como Igreja. Então, essas identificações étnicas só nos limitam cada vez mais. Não precisamos de mais problemas.

De fato não foi assim assim. A Ortodoxia começou na América através da Igreja russa, com a idéia de construir a Igreja na América até o ponto em que poderia tornar-se auto-suficiente como uma Igreja Ortodoxa na América. Infelizmente, não foi assim que aconteceu — devido em grande parte à ruína na sequência da revolução bolchevique e do início do período comunista. Mas vivemos com as consequências da história, boas e más. A Ortodoxia sofreu muitas consequências ruins ao longo dos últimos 800 anos.

A Ortodoxia nunca foi limitada às fronteiras étnicas. Estamos declarando essa limitação como uma afronta à fé e, de fato, uma heresia. A Igreja é para pessoas de todas as origens; isso foi parte de seu gênio nos primeiros séculos. O medo entre os estranhos foi substituído pelo amor entre os estranhos, pois pessoas de todos os tipos de origens e etnias se tornaram uma só em Cristo.

Qualquer igreja pode se transformar em um enclave étnico. Quando eu estava crescendo na Filadélfia, um "casamento misto" era quando um católico irlandês se casava com uma católica italiana. Na América, esse negócio étnico pode ser muito mais sutil do que identificar descaradamente apenas alemães ou russos; pode ser identificado com pessoas de certa mentalidade ou persuasão política. Podemos chamar isso de tribalismo.

Não é a etnia que separa as pessoas, neste caso, mas quando você fica em qualquer outro qualificador, você abandona o ideal cristão. Algumas igrejas tornaram-se tão identificadas com as causas políticas da direita ou da esquerda que quase ninguém que detém uma posição contrária pisaria nelas. Quando você restringe o alcance do propósito central da igreja para proclamar o Evangelho de Cristo, você vai perder. Nenhum qualificador deve vir antes da fé.


Tradução: Felipe Rotta.